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Secretaria de Educação, Cultura e Esportes > Departamento de Cultura

Contando uma História

Atualizado em 16/04/2021 às 08:48

O projeto “Contando uma História” quer aproximar o expectador das revelações que a memória quer contar. Seja ele estudante, trabalhador, viajante ou turista, há sempre uma troca a ser feita. Sintase convidado para este diálogo e permita-se viajar no tempo. Somos o resultado dessa caminhada e, a cada gesto, estamos construindo o caminho que vem pela frente.

 

Canjicas

Lugar de fabulosa experiência humana, Canjicas, nome ainda bastante presente na citação dos moradores da localidade que hoje conhecemos como distrito de Hercílio Luz, reúne, nos mesmos espaços das diversas comunidades, uma rica diversidade cultural assentada, tanto no mito que povoa o imaginário, quanto no sagrado manifestado no cultivo da fé. Margeada em parte pelo rio Araranguá, que busca adiante a sua desembocadura, o morador da localidade soube desenvolver sua “cultura anfíbia” para relacionar-se de forma produtiva, tanto com a água, recurso para o qual dedicou a habilidosa arte da pesca, quanto para a terra, magnífico solo de tantas colheitas. Quanta história este povo tem para contar! Assim é Canjicas, um lugar que reafirma, a cada dia, a sua contribuição para a base cultural de Araranguá.

 Festejos em Cangicas - Foto: Bernardino de Senna Campos

 

Lendas

O mito, as histórias e as lendas, representam uma importante simbologia cultural da comunidade do distrito de Hercílio Luz. Isto se deve às tradições repassadas pelas gerações ao longo do tempo, o isolamento geográfico pelo rio Araranguá e o forte contato da comunidade com a natureza, gerando um imaginário, cujo legado é ainda muito conhecido entre seus moradores. Entre os mitos, é muito conhecida a figura do Caracaxá, que segundo os moradores, “é um pássaro bicudo, que vira uma bola de fogo” e aparece em noites escuras de pesca.

 caracaxá - Arte Alexandre Rocha

 

Artesanato

Importante recurso de sobrevivência social e singular marca da identidade cultural, o artesanato se faz presente em todas as comunidades do distrito de Hercílio Luz. No entanto, a partir da década de 1950, esta manifestação passou por um processo de transformação. O que antes era desenvolvido para o atendimento das necessidades cotidianas do lar, do trabalho na pesca e na agricultura, tais como a fabricação de balaios, chapéus, canoas e remos, passou a agregar a criação artística para fins decorativos e atendimento aos visitantes, com o acréscimo de itens como esteiras, bonecas, quadros, vassourinhas, sombrinhas, leques, peixes, entre outros. Para este tipo de artesanato, emprega-se a rica variedade de material fornecido pela flora local, tais como junco, tiririca, casca de imbira do mato, casca de bananeira, matinhos do campo, palha de milho, folhas de carvalho, sementes, e muitos outros. O artesanato, enquanto atividade inserida no contexto sociocultural da comunidade, possui forte significado e representação na vida do morador do distrito de Hercílio Luz. Seu trabalho, antes voltado às atividades pesqueira e agrícola, passa a ser também de artesão, de onde provém parte importante da renda familiar.

 

Máxima Astrogislda de Souza, artesã - Foto - Micheline Vargas de Matos Rocha

 

Artesãs de Ilhas - Foto: Sandro Ramos

Águeda da Cruz Cardoso, artesã e pescadora - Foto: Sandro Ramos

Pesca

A pesca, para o morador de Araranguá, representa mais do que o sustento para muitas famílias. Vem da atividade pesqueira muitos dos causos contados e repassados de geração em geração, tornando-se parte inseparável da cultura pesqueira. Aproveitando-se de sua posição geográfica e dos diversos mananciais, o morador solidificou uma forte identidade cultural que definiu seu modo de vida, caracterizado pelo relacionamento íntimo com as águas do rio, das lagoas e do mar.

 

Roberto Carlos Sebastião e Rinaldo Ramos da Rosa, pescadores - Foto: Sandro Ramos

 

 Acervo - AHA

 

Agricultura

A terra tem um sentido muito especial para os moradores da Araranguá. Ela é sinônimo de vida, chão de afetividade que garante a sobrevivência, espaço de semeadura da esperança, herança do trabalho dos antepassados.

Manoel Hermógenes Inácio, agricultor - Foto: Sandro Ramos

 

Morro Centenário

Era o ano de 1922 e o Brasil completava o seu primeiro centenário como nação independente. Para marcar a data histórica o superintendente, coronel João Fernandes de Souza, mandou erigir um cruzeiro no alto no monte próximo da vila, para servir de marco da importante data nacional.
Tudo estava pronto para a inauguração no dia 7 de setembro, porém o tempo não ajudou e as fortes chuvas impediram o ato, que somente ocorreu três dias depois, no dia 10 de setembro. Inaugurado o cruzeiro, passou o monte a ser chamado de Morro Centenário, cujo monumento está prestes a, ele próprio, completar os seus 100 anos.

 

Morro Centenário, 1923

Morro Centenário, 1923 - Foto: Bernardino de Senna Campos

 

Farol

O Farol do Morro dos Conventos foi construído por Belmiro Demétrio Perraro em meados de 1953. Desta data em diante, esteve presente na história do município de Araranguá, de seus moradores, navegantes e turistas. Majestoso, impõe-se do alto do morro com a missão de lançar sua luz e sinais de radar mar adentro, iluminando e orientando o caminho de tantos navegadores. Incansável, trabalha noite e dia, consolidando-se como referência do passado e do presente junto a mais bela paisagem do sul catarinense.

Farol do Morro dos Conventos - Década de 1950 - Foto: José Genaro Salvador

 

Tecendo uma história

Do movimento de fios e agulhas, do encontro de tricotadeiras e tecelões, surge a malharia, senhora do conforto e da flexibilidade, remodelando a cada instante novas contexturas. Este movimento evidencia o trabalho de tantos, que ao logo da história, contribuíram com a chegada de novas técnicas para suprir as necessidades da sociedade mundial. Araranguá conta em sua história a presença da indústria fabril da malharia, e a cidade também se destaca na confecção de tapetes artesanais. Eis o encontro da habilidade do tecelão com a sua criação, unindo a melhor composição, a harmonia, o fio e a cor escolhida para tecer o novo tapete.

 

 João Márcio Lima dos Santos e Maria Terezinha Bittencourt, tecelões - Fotos: Micheline Vargas de Matos Rocha

A parteira

O nascimento de um bebê é um sublime momento de amor, é expectativa de futuro, preocupação e felicidade, encontro de uma nova vida com o mundo. Com o passar do tempo, as emoções em quase nada mudaram, mas a ciência médica trouxe avanços para garantir segurança à mãe e ao bebê na hora do parto. Em tempos passados, a presença do médico era apenas eventual, tornando ainda mais essencial o trabalho das habilidosas parteiras. Quantas dificuldades passadas, fosse de dia ou nas madrugadas frias, fizesse sol ou chuva, em que o pai desesperado batia à porta da parteira em busca de sua ajuda! Entre euforia e preocupação, lá seguiam, muitas vezes a pé ou de carroça,
transpondo barreiras como o rio e longos trechos de mata.
Em Araranguá, entre tantas outras, são mencionadas as parteiras Caridad Larroyd e Rosa Matos Freitas, conhecida carinhosamente por Rosinha Parteira. A cada parto, um novo acontecimento e uma nova história. Dona Emélia Vargas de Matos nos relata a sua inusitada experiência no parto realizado por dona Rosinha: “Logo que comecei a sentir as dores, meu marido Izaurino foi chamar a parteira. Na época eu morava na Urussanguinha. Ela veio com ele e logo me senti segura porque a hora havia chegado. O que não esperávamos é que seria o parto de trigêmeos. Foi sem dúvida um momento de muita agitação e alegria.”

Caridad Larroyd, década 1948 - foto: José Genaro Salvador 

Caridad Larroyd, década 1950 - Foto: José Genaro Salvador

Parteira Rosa Matos Freitas - 1964

Emélia Vargas de Matos e Izaurino Matos com os trigêmeos - Foto: acervo AHA

 

Maria Leofrísio

A poeta Maria Leofrísio trilhou as ruas de Araranguá levando poesia. Um encontro com Maria, era sentir a essência da força da mulher. Maria era cristalina, e suas falas, sem rodeios, conduziam a uma viagem pelo seu próprio universo, recheado de histórias como sagas dramáticas, muitas vezes também temperadas de humor. Maria Pipoqueira, como também era conhecida, fez muitos amigos, boa parte deles nas rodas de conversa enquanto servia o pacote de pipoca aos fregueses.
Uma mulher, um carrinho de pipoca, e muitos sonhos de um mundo melhor para seus filhos. Assim era Maria, que após seu trabalho e afazeres na praça, andava ligeiro em busca do próximo ônibus que a levaria para o lar. Seu pensamento inquieto encontrava repouso nas palavras batidas na velha máquina de escrever, desde quando alfabetizou-se em idade já adulta. Assim era Maria: Maria filha, mãe, amiga, mulher. Maria poesia!

Maria Leofrísio - Acervo AHA

Maria Leofrísio - Acervo AHA

 

Armazém

Tocar o velho balcão de um antigo armazém é transcender para tempos distantes e lugares presentes apenas na memória de alguns. É deixar a imaginação fluir, guiada pelos relatos dos mais velhos. É sentir o cheiro do cereal, do salame e do queijo, trazidos de comunidades distantes para servir à população da pequena vila. É perceber a chegada da criança e o seu encanto com os doces e balas colocados cuidadosamente pelo comerciante na vitrine. É ouvir atentamente as encomendas da freguesia: “- um quilo de arroz; - meio quilo de banha; - quatro pães novinhos; - meio quilo de carne para bife; - um quarto de quilo de café... Ah, e minha mãe pediu para o senhor marcar na caderneta”. Ah, a caderneta! Um caderninho que servia para tomar nota das despesas de muitas famílias com o armazém. Atualmente, é lembrada com saudosismo, mas já foi preocupação de diversas pessoas, principalmente com a chegada do final do mês. Entre tantos sentidos, o paladar é, sem dúvidas, o que primeiro que vem à mente dos que a estes espaços frequentavam. Alguns afirmam poder revisitar o gosto do pão da vitrine, da cachaça pura, do torresmo, da banana no cacho, da bala de coco… Quantas histórias trazidas e levadas destes lugares! Do “bom dia!” acanhado ao forte aperto de mão; do sorriso largo do comerciante ao prazer do freguês em poder levar para a família os produtos do velho armazém.

Armazém em Barro Vermelho - Acervo AHA

Casa Para Todos- Foto - José Genaro Salvador

 

Campo da aviação

As condições das estradas de Araranguá, a lentidão das viagens de ônibus e uma ferrovia com tráfego apenas regional, colocaram a cidade na rota de importantes empresas aéreas, como a Taba e a Varing, entre as décadas de 1940 e 1960. A Taba utilizava o leito do rio Araranguá para os seus hidroaviões, e a Varing, o antigo campo da aviação. Os voos eram meios muito utilizados, tanto para a facilitação do transporte de estudantes para outros centros, quanto para o comércio, viagens de passeio e turismo, com o Morro dos Conventos, já, na época, atraindo visitantes de diversos lugares, dado o seu magnífico conjunto natural, abrangendo a foz do rio, as dunas, as falésias e o mar. Porém, o período dos aviões e seus aviadores não teve continuidade em Araranguá, restando apenas as recordações que alimentam a memória dos moradores, que muito sentiram a partida do último voo, nada podendo fazer frente as exigências de segurança, os altos custos operacionais e a necessidade de investimentos. Por algum tempo o campo de aviação, mesmo não servindo mais às grandes companhias, passou a ser utilizado pelos aviadores locais e seus pequenos teco-tecos. Entre os pilotos que fizeram história, são saudosamente lembrados Manoel Salvato Pereira, conhecido como Nelinho, Edgar Orige e Oméro Clézer.

Avião Taba taxiando o rio Araranguá, década de 1940 - Foto: José Genaro Salvador

Campo da Aviação 1956, RJ-Araranguá - Foto: José Genaro Salvador 

varig no aeroporto - Foto: José Genaro Salvador

 

Bairro Barranca

Araranguá é uma jovem senhora. Imagine que no início do século XX ainda dava seus primeiros passos na busca de se estruturar como cidade. O bairro Barranca, como é chamado atualmente, era apenas conhecido como “Barranca do rio”, e é parte importante desta história, destacando-se como centro comercial e local estratégico de recepção de mercadorias, exportação de produtos da indústria local e transporte de passageiros, tudo graças à ferrovia implantada na década de 1920. Desta forma a Barranca recebia novos investimentos, e aos poucos se estruturava com hotéis, armazéns, engenhos, restaurante, e uma intensa vida social, o que fazia do lugar, o principal bairro de Araranguá.

Mutirão na praça anos 1980. Acervo - AHA

Vista aérea do bairro Barranca - Foto: José Genaro Salvador 

Vista aérea do bairro Barranca - Foto: José Genaro Salvador

 

O trem

E o trem? Lá vem o trem, e com ele muitos sonhos prestes a ser realizados... Histórias contadas nos fazem olhar para o trem pela visão do maquinista e seu trabalho de muitas horas de viagem, buscando assegurar aos passageiros a chegada ao destino com segurança. Também fazem caminhar pelos sonhos dos viajantes em conhecer e reencontrar outras paradas e pessoas que há muito tempo
não viam.
Quantos olhares pode-se observar ao ouvir relatos sobre a ferrovia? Alguns falam da água que chegava pelo trem, e que dela se serviam as famílias, usando panelas e baldes para suprir as suas necessidades diárias. Outros lembram dos trocados recebidos para carregar as bagagens dos viajantes. São vivências que podemos capturar ao nos debruçarmos a contemplar a história, como aquela do trabalhador
do engenho, que conta sobre a quantidade de sacas de farinha que carregava para exportar pelo trem. Com saudosas lembranças, ouvimos pelos relatos os inúmeros encontros festivos realizados na estação. Sim, a estação era também a extensão das casas dos moradores, local de encontro da comunidade e dos namorados. Quantas histórias! Há também aqueles que, mesmo com olhos entristecidos, nos falam o quanto foram importantes os vagões em época de enchentes, servindo como refúgio imediato na hora do desespero. E aquela do viajante, sobre as suas primeiras impressões do lugar, assim que chegou de uma longa viagem! De suas infâncias, muitos se recordam dos tempos em que tinham a estação como local onde passavam horas a brincar, além das lembranças de cotidianos agitados nos armazéns e hotéis, enquanto
o balseiro chamava para a travessia do rio.
E a fumaça, e o apito que não saem da memória de quem vivenciou as chegadas e partidas do trem? Muitas histórias poderiam ser contadas, mas nenhuma pode expressar com tanta clareza, o relato do último apito do trem. Com olhos perdidos no tempo, o morador descreve o quanto foi difícil para a comunidade presenciar o adeus da locomotiva. Parecendo entrar no vagão, ele reconstrói o cenário interno, a fileira de bancos, o corredor estreito, o último olhar pela pequena janela lateral do vagão. O tempo passou depressa, um convívio de apenas 40 anos, e a história de um bairro foi modificada para sempre.

 

Ponta da linha Estrada de Ferro Tereza Cristina - Fotos: Bernardino de Senna Campos

Estação Barranca Séc 20 - Acervo AHA

Estação de Ferro Tereza Cristina - População pegando água no trem - Foto: José Genaro Salvador

José Flor 08/08/1947, Acervo - AHA.

 

A balsa

As balsas contam muitas histórias. Quando não havia pontes sobre o rio Araranguá, a travessia tinha que ser feita com o uso de canoas ou de balsas espalhadas por diversos pontos, preenchendo romanticamente o cotidiano ribeirinho. Com isto, o serviço ganhou elevada importância, gerando de tal forma um lucrativo negócio. Quantas idas e vindas fizeram as velhas estruturas flutuantes, levando mercadorias ou transportando passageiros? Este meio rústico e de curto trajeto foi notável e fundamental para que as transformações sociais de ambos os lados do rio ocorressem. Era pela balsa que o morador ia para o trabalho, o apaixonado ia encontrar o seu amor, o mercador trazia seus produtos para vender, ou as pequenas multidões iam em tardes de domingo para as inesquecíveis partidas de futebol. Enfim, foram muitos e diversos os motivos pelo tempo afora, que por décadas levaram milhares de pessoas a utilizarem as balsas, tendo sempre por perto a ajuda providencial do bom e velho balseiro. Era ele o homem da balsa, o responsável por pequenos, singelos e grandes momentos
do cotidiano, fazendo existir ponte onde não havia, entre as margens do Araranguá. Na mente de muitas pessoas, ainda repousam fortes e resistentes lembranças que atravessam o tempo. Nestas recordações a balsa ganha destacada presença na paisagem histórica de Araranguá.

 

Balsa - Fotos: José Genaro Salvador

 

Ponte pênsil

A luta dos moradores da Barranca para ter uma ponte que os possibilitasse transpor o rio com maior segurança era antiga. No início, os únicos meios possíveis eram o barco, a balsa, ou mesmo a nado, algo que ficava cada dia mais complicado, pois a população aumentava e o movimento econômico exigia maior agilidade de locomoção. Apenas em 1956, sob pressão popular e articulação politica, Araranguá recebe a sua primeira ponte de concreto, fazendo a ligação da rodovia federal. A obra trouxe para o município muitas transformações, entre elas o crescimento do bairro Cidade Alta. Isto foi impactante para o bairro Barranca, que possuía a estação de trem e era o ponto econômico mais importante nas proximidades do Centro, e que agora teria a concorrência do transporte rodoviário. Um pouco afastada, a ponte de concreto pouco ajudou os moradores da Barranca, que seguiram lutando por uma ponte no próprio bairro, uma vitoriosa conquista que só chegou em 1972, com a implantação da ponte pênsil, ou como é chamada, “ponte de arame”. Por muito tempo a ponte pênsil foi testemunha de andares apressados para chegar ao trabalho ou aos estudos do lado direito do rio, e vice-versa. Da mesma forma, para interagir com o Centro da cidade com maior rapidez e sem horário predefinido, não necessitando mais da velha balsa. Atualmente a ponte pênsil é considerada patrimônio cultural.

Ponte Pênsil

 

Calçadão

As avenidas de Araranguá ostentam a mais arrojada planificação urbana do Estado, o que faz a cidade ser conhecida como Cidade das Avenidas. Um marco referencial da proeza urbana de Araranguá é o Calçadão da Avenida Getúlio Vargas, espaço conhecido como o de maior convivência social e comercial da área central. O famoso Calçadão foi inaugurado em 3/5/1991, e exibe em seus passeios, símbolos que lembram a cultura litorânea de Araranguá. O lugar de breves encontros em suas calçadas, passa a ser protagonista de longas conversas, algumas nos bancos floridos do Calçadão, então recém-inaugurado, outras nas mesas do Bar Central. A década de 1990 foi, sem dúvidas, o auge deste novo lugar, atraindo a juventude nas tardes de domingo e, nas noites, um encontro com o cinema e com a boate, ainda em funcionamento na época. O tempo passou, mas o Calçadão ainda é uma importante referência local, onde os amigos se encontram
para um bate-papo, e muitas vezes para relembrar dos bons tempos vividos na cidade, contando fatos pitorescos que só um araranguaense pode entender. Os sobrados do Calçadão também merecem uma referência especial, por serem testemunhas, em diferentes épocas, do cotidiano comercial, mas também da moradia de diversas famílias, sendo, em muitos casos, a extensão de suas casas. Tímidos por detrás de placas comerciais, os sobrados mantém-se preservados a espera de um novo descortinar de sua beleza.

Avenida Getúlio Vargas, atual Calçadão - Década de 1950

Calçadão Araranguá, Acervo - AHA

 

Entretenimento

Os espaços de entretenimento ajudaram a integrar gerações inteiras em Araranguá. Como esquecer o antigo Café Brasil, o Bruxas Center, o Moraco? Quem não curtia um bate-papo no Peninha, no Bar Central, no Campinas, no Pedra 90? Que tal aquela passada pelo bar do Crisanto, entre tantos locais ainda presentes na memória do jovem senhor? Para muitos, ainda habita a mente os encontros no Quitandinha e os bailes espalhados pelos salões de bairro e clubes da cidade, como o UCCA, o Tênis Clube e o Grêmio Fronteira. Para as gerações mais recentes, são fortes as lembranças dos incríveis momentos no Salão Amizade, com muita dança e encontros de olhares, e na Eve ´Som, com o Tilinho já na entrada, e nem sempre ter o dinheiro para o ingresso. Quantas histórias nos embalos de sábado à noite! A música contagiava já na entrada, onde o tímido, muitas vezes de mão no bolso, começava a dar o primeiro balanço e a se achegar de mansinho. Da mesma forma chegava o empolgado pronto para a dança, sempre de olho da diversão e naquela paquera. Sem contar as festas em casa, regadas a ponche e cuba libre, os aniversários de 15 ou 18 anos, momento mágico em que o aniversariante preparava a casa para receber os amigos e muitos recebiam também o chamado “peru”, que frequentava as festinhas sem ser convidado. Quantas amizades e quantos
amores surgiram nestes momentos!
Poucos destes locais sobreviveram ao tempo, mantendo-se salvos apenas nas recordações e álbuns de fotografias. E no tempo presente, assim como em cada época, a juventude encontra uma nova maneira de se integrar, se divertir, propagar a alegria e ser feliz!

Bar e restaurante Ponto Chic, década de 1940 - Foto: José Genaro Salvador

 

Cinema

A arte do cinema em Araranguá deixou seu registro em diversos espaços e em diferentes épocas. Na década de 1930 o Cine Glória, com a exibição de cinema mudo, era a atração da Avenida Coronel João Fernandes. Com o início das atividades turísticas no balneário Morro dos Conventos na década de 1950, um pequeno espaço foi reservado ao cinema, para o deleite de veranistas locais e visitantes. Ainda na década de 1950, a requintada arquitetura residencial e comercial da Avenida Getúlio Vargas recebeu as instalações do Cine Roxy. A primeira localização era em frente a atual Galeria Travessia. Já em 1959 a casa de exibição muda de endereço, passando a funcionar ao lado
do atual Bar Central, endereço mantido até a sua desativação em 1994.
Espaço bem frequentado e privilegiado lugar de convivência social, o cinema mudava de endereço e a comunidade seguia seus passos. Ir ao cinema era uma das preferências de entretenimento para uns, e demonstração de amor pela arte cinematográfica para outros. Da mesma forma, muitas histórias e namoros têm o cinema como cúmplice. Absorvidas pela chegada de novas tecnologias, como a televisão, o vídeocassete, mudanças comportamentais e as transformações do mundo atual, as casas de exibição sofrem abalos e, como forma de sobrevivência, passam a adaptar-se a novos espaços. Ainda por algum tempo tivemos o Cine Caverá, mas atualmente, em Araranguá, as sessões de cinema ao sabor de pipoca e bala Chita, assim como os beijos do grande amor, podem ser experimentados nas salas do Center Shopping Araranguá.

 

Cine Roxy - Acervo AHA

 

O comércio

O comércio de Araranguá nasceu com a própria cidade, sendo o tropeirismo uma das principais movimentações econômicas relatadas na história local e regional. A chegada do tropeiro, com mercadorias trazidas por cavalos e mulas, era aguardada pelo comerciante e pelas pessoas, pois em tempo de poucos visitantes, o viajante era também uma ligação com as notícias de outros lugares. O comércio sempre foi além da movimentação econômica de uma localidade. Ele é a relação do comerciante com o freguês, numa cumplicidade de anos de convivência, onde todos se conheciam e uma caderneta valia como única anotação do item comprado. As pequenas cidades ainda mantém algumas práticas, em que o balconista, em muitos casos, preserva a relação com o cliente, conhecendo seu gosto e seus costumes, estratégias importantes para uma boa venda.

Casa Bandeirante - Acervo AHA

Casa de comércio de Eugênio Steckert, 1930

Comércio do Calçadão de Araranguá, meados do séc. 20 -  Acervo AHA

Praça Hercílio Luz, A Truiunfante - Acervo AHA

 

Museu Histórico de Araranguá

Esquina de encontros, de negócios, do capital financeiro. Agora lugar de memória. Este espaço abrigou, em diversos tempos, algumas instituições financeiras, tornando-se uma importante referência bancária da cidade. No mesmo local, em outra construção, funcionou uma ampla casa de comércio, que na década de 1940, cedeu lugar ao novo prédio, destinado a sediar uma agência bancária, tendo em sua parte
superior, as acomodações de moradia destinadas à gerência. Mais tarde o edifício foi ampliado, quando alcançou o seu formato atual.
Presente na memória dos cidadãos, e de forma particular na lembrança de antigos clientes e ex-funcionários, a famosa esquina é hoje um patrimônio cultural da cidade, com a nobre missão de abrigar, em seu andar térreo, o Museu Histórico de Araranguá. Nada mais digno para um espaço que testemunhou o cotidiano local e as diversas transformações da cidade ao longo do tempo.

Centro Cultural Máxima Astrogisda de Souza - Sede do Museu Histórico de Araranguá. Acervo - AHA

 

Biblioteca Pública Municipal Luiz Delfino

A Biblioteca Pública Municipal Luiz Delfino foi criada em 1/10/1941, e transferida para o Jardim Alcebíades Seara no dia 28/10/1943, em ato solene de inauguração de seu espaço e do próprio coreto, recebendo assim os seus primeiros visitantes, entre eles alunos, pessoas da comunidade e autoridades. Quantos encontros com o conhecimento seus frequentadores tiveram ao longo desses 78 anos? Muitos recheados de poesia, outros mergulhados na ciência. São horas e horas de estudos, pesquisas, convivências, que podem ser contados pela memória da guardiã, a bibliotecária. Ilustre referência deste espaço de saber, ela garante que cada livro adormeça com segurança na prateleira da estante da velha biblioteca, e que o mesmo possa despertar nas mãos do leitor recém-chegado.

Biblioteca Pública Municipal Luiz Delfino - Acervo AHA

 

Praça Hercílio Luz

No traçado da planificação urbana de Araranguá, largas avenidas foram previstas, causando espanto entre os habitantes, que consideravam um desperdício tanto terreno para ruas tão largas, por onde passariam carroças, nada mais que carroças, pois sequer veículos a cidade possuía. Muitos também perguntavam para que uma quadra inteira reservada para um jardim, que no início servia
mesmo era para um bom potreiro, chegando a ser cercado. Não imaginava o morador antigo de Araranguá que ali seria o grande jardim municipal, onde as árvores seriam as donas absolutas junto a flores, pássaros e sombras para o descanso de visitantes e moradores. Em homenagem ao governador, o superintendente João Fernandes batizou a praça de Hercílio Luz. Mais tarde o jardim da praça seria batizado com o nome do ex-prefeito Alcebíades Seara.

 

Jardim Alcebíades Seara, década 1950 - Foto: José Genaro Salvador

 Praça Hercílio Luz - Foto - José Genaro Salvador

Coreto

Passear pela memória dos moradores de Araranguá que frequentavam o centro da pequena vila, e posteriormente da cidade, é encontrar o singelo e gracioso coreto na parte central do Jardim Alcebíades Seara. É, transpondo o tempo nos braços da imaginação, sentir as sensações, ouvir os risos, a melodia da banda municipal, os segredos dos namorados, ficar horas a contemplar o encontro da comunidade em meio a brincadeiras infantis, as festas religiosas e os discursos de líderes políticos. É também ver o tempo passar, a estrutura do coreto mudar, ganhar longas escadarias, ver as árvores do jardim crescerem, o movimento da praça aumentar, carros a circular, e então perceber que o tempo mudou; que as pessoas não mais procuram pelo velho coreto, e sim vencer o cotidiano ligeiro, ver o transeunte apressado para chegar em algum lugar, que não é mais o coreto, que tampouco existe mais... Em seu lugar permanece a biblioteca, guardiã do conhecimento e da memória de tantas pessoas e do eterno coreto.

 

Segundo Coreto, meádos do séc. 20 - Fotos: José Genaro Salvador 

Primeiro Coreto, início do séc. 20 - Acervo AHA

 

Planificação do município de Araranguá

Um dos primeiros passos na estruturação de uma cidade é a sua organização territorial, onde serão definidos os espaços urbanos e rurais, traçados de ruas, criação de praças, áreas comerciais, industriais e de moradia. No entanto, na maioria dos casos, os planejamentos, ou inexistem, ou são elaborados tardiamente para corrigir os problemas que a cidade enfrenta. Segundo Hobold (1994), “Araranguá encontrou bem melhor sorte ao receber das mãos do engenheiro Antônio Lopes de Mesquita, em 1º de setembro de 1886, uma planta com o título sugestivo de ‘Planta da futura cidade de Araranguá’, dotada de arruamento baseado em moderna urbanística, com amplos logradouros
públicos, avenidas e ruas largas, simétricas e retilíneas”. O projeto de Mesquita causou estranheza entre os moradores da época. Como imaginar que ruas para o tráfego de carroças e carros de bois tivessem um traçado tão largo, bem diferente das estreitas ruelas de Desterro e Laguna? No entanto, com o tempo, o que parecia ousado demais, foi ganhando destaque como exemplo de planejamento, o que mais tarde rendeu à cidade o sugestivo título de “Cidade das Avenidas.”

Cópia original da planta de Araranguá, desenhada por Oscar Boronski em 1892. Acervo - AHA

Antônio Lopes de Mesquita - Foto: autor desconhecido. Acervo - AHA

 

José Genaro Salvador

As fotografias de Salvador, entre 1940 e 1970, têm uma forte relação com o cotidiano da cidade e das pessoas. Seu acervo é revelador e de fundamental importância para a preservação da história de Araranguá e de outras localidades. Registros preservados pelos familiares de Beppe, como também era chamado, nos levam a caminhar por momentos únicos, em que suas fotografias provocam a imaginação dos que as contemplam. Ali estão poses de um casamento num sábado de uma data distante; os encontros sociais em que a moça colocou o melhor vestido, atos religiosos que enalteciam a fé, festivas inaugurações de obras aguardadas, e tantos outros.
Estes momentos hoje, são ilustrados pelas lembranças dos mais velhos, que os revivem, e apresentam o passado desconhecido aos mais jovens.
É pelo olhar materializado em fotografias de José Genaro Salvador, que as pessoas podem redescobrir a cidade e suas transformações, assim como conhecer as pessoas e seus feitos.

 

José Genaro Salvador. Acervo - AHA

 

Bernardino de Senna Campos

Os diários do telegrafista Bernardino de Senna Campos possibilitam conhecer um pouco mais a história local, tendo como base a sua produção fotográfica e sua escrita original, permeados de sensações e cotidianos distantes, que ele mesmo não queria ver apagados no tempo. Na obra de Campos, identifica-se uma narrativa detalhada, que ilustra nosso imaginário sobre os costumes e o modo de vida de diversas gerações. Seus escritos também nos convidam a percorrer a pequena urbanidade e o interior da pacata Araranguá de outrora, que tinha no ofício do telegrafista, um magnífico e quase único meio de comunicação com o mundo fora da vila. Com sua sensibilidade, inquietude e poesia, Campos nos legou registros valiosos, hoje em dia tão celebrados por pesquisadores e apaixonados pela história local e regional. Preservado pelos familiares, o acervo nos oferece detalhadas anotações que o autor caprichosamente soube separar
em títulos, páginas e volumes, entre assuntos públicos e pessoais. Convidamos para uma viajem no tempo, com a narrativa breve de um dos textos deixados por Bernardino nos seus diários.

Retrato Bernardino de Senna Campos, 1924

 

Campanha da pedra

Na década de 1940 o município tinha pela frente o enorme desafio de interligar as diversas comunidades e distritos do interior. Suas largas fronteiras abrangiam as encostas da serra e o litoral. Para o interior havia estradas, ainda que precárias, aproveitando-se boa parte dos antigos caminhos de indígenas e tropeiros. Mas para as praias, pescadores e veranistas enfrentavam muito areal e atoleiro. Com poucos recursos e equipamentos, uma grande mobilização em forma de mutirão arregimentou voluntários proprietários de caminhões e até de veículos menores para a grande empreitada. No dia 20/11/1948, a campanha da pedra abriu caminho para o Balneário Arroio do Silva, iniciando-se ali, o desenvolvimento do turismo em Araranguá. Hoje, o antigo caminho aberto a picaretas compõe a Rodovia SC-447.

 

Campanha da Pedra - Foto: José Genaro Salvador

Detalhe da Campanha da Pedra - Foto: José Genaro Salvador

 

 

Historiadora responsável pela pesquisa, texto e curadoria: Micheline Vargas de Matos Rocha